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quarta-feira, 4 de janeiro de 2012



Arranham-me as entranhas ...



É a partir de dentro para fora que me matam..
Facas afiadas de mãos que já me acariciaram...
Pouco a pouco... despedaçam-me os órgãos...
A principio só uma dor no coração...
Normal para quem ousa usá-lo para algo mais que batidas ritmadas .

Depois uma cólica que enrola o estômago em volta de um vazio ...
Engulo um naco de pão à pressa, tento acalmar a dor…
Mas a dor física é insuportável…Até as pedras pouco preciosas.... desfazem-se a murro ...
Causando um golpe de rins, que tento disfarçar em movimentos dançados ...


Sopram ventos de todos os lados ..
Dilatando-me o peito prestes a rebentar...
Respiro ofegante…ainda…
O cérebro apertado pelos pensamentos confusos é banhado por líquidos pegajosos...
Parecem rios poluídos...
Uma tontura em cada novo pensamento...
E um sentimento forte…. em fuga do coração, acumula-se nas margens do meu ser..

Pouco resta de dentro que possa ser reflectido para fora…
O sonho que julgava puro..foi assassinado…
Morre antes de mim…
A boca seca-se ...
Já não há palavras suculentas...nem excitação possível que me faça salivar...
Ficou uma coisa horrenda...um trapo velho...que depois de tanto uso se joga fora...

Antes havia a esperança o amor a força e os nossos braços...

Agora um inferno diário…insuportável...
Os quilos vão desaparecendo...paralelamente ao meu ser...
A língua torna-se branca... Áspera ...
Soltando palavras ao acaso...
Todas elas cruas... Impuras.. Ordinárias ...

Perdi o sentido dos sons..
Agora são só barulhos horríveis ...
E só escuto por mero acaso…
O negro da menina...
Que antes sorria amada...
Confunde-se com o negro do vazio...

Resta-me respirar… ofegante...
A pele desnuda-me como se quisesse intimidar a vergonha que sente…
Enrolando-se como estores…
E eu como janela entreaberta exponho-me...

Resta-me ainda o ventre...
Cansado…
Mas fértil... ainda…
E antes que me matem tudo
Desfaço o resto das minhas entranhas
Sangrando pelo sexo em gotas
O que nas veias acumulei em anos…

E para que se saiba a causa do suicídio...
Escrevo com a ponta do dedo...
Na poça de sangue onde me findo...

Eu enfrentaria o mundo inteiro com uma mão…se te tivesse agarrar a outra!



Fim

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